31 de dez. de 2008

Crescer é bom. Pros outros.

Ser adulto não é legal.

Pronto. Falei.

Me digam, qual é a grande vantagem de envelhecer?

O incessante acúmulo de responsabilidades?

Porque convenhamos, ser criança é muito mais legal.
A única preocupação que se tem é passar de ano. E tentar pegar na mão da Maricota do 203.

Eu fazia as promessas mais mirabolantes pra ver aquele 7 azul no boletim no final do ano.
Desde parar de falar palavrão até estudar de verdade no ano seguinte.
Obviamente eu não cumpria nenhuma delas.
Mas eu lembro que prometia com um fervor impressionante.

Mals aí, Criador.

Mas melhor que a infância é a adolescência.
Você ainda pode se divertir como criança, mas tem regalias de adolescente, como dormir tarde e apalpar todos os centímetros das colegas adolescentes.
Mesmo que no final das contas o único lugar com livre acesso fosse o cotovelo.

De repente chega o vestibular.
Pressão de todos os lados.
Da professora psicótica que deposita as esperanças da sala em você (“você vai passar, tenho certeza. Você é especial”) até os pais, que não fazem nenhuma pressão declarada, mas também estão perdendo o controle do esfíncter, igualzinho a você.

Passado o vestibular, as coisas tendem a acalmar-se um pouco.
Claro que dependendo do número de vezes que ele foi tentado, a pressão posterior pode ser multiplicada algumas vezes. Umas trinta. Besteirinha.

Quando se entra na faculdade ainda existe a ilusão de que você voltou a ser despreocupado. Mais ou menos como a criança lá de cima.

HÁ!

Depois de um ano de zoeira, chega sua tia-avó de Cruz das Almas e manda aquela: “Um ano na faculdade e você ainda não tá estagiando, mizifio?”

É, amigo. Pressão.

Daí pra frente, filhote, é ladeira abaixo.

Estágio. Trabalhos da faculdade. Estágio. Monografia. Estágio. Contratação (ou não). Trabalho. Trabalho. Trabalho.

Daí, quando você tá começando a ganhar uma grana legal e voltando a ser pelo menos um adolescente – aliás, melhor. A área acessível cresceu consideravelmente - chega o pai da sua princesa e fala:
“E então, rrrrrrapaz. Não vai casar não?”

É, amigo.

Pressão.




29 de dez. de 2008

Politicamente chato

Os chatos do “politicamente correto” e do “moralmente aceitável” acabaram com a graça da vida.

Ou você não acha que tudo era muito mais divertido quando dizer que português é burro não era sinal de uma sociopatia iminente?

Crianças não podem mais brincar de luta com seus bonequinhos dos Comandos em Ação porque isso estimula a violência.

Saudável é ficar assistindo Pokemon, Chatomon e Bizarromon.

Jogos de computador são proibidos por terem um conteúdo excessivamente violento.

Na boa, alguma criança mentalmente saudável consegue se divertir jogando Ursinho Pooh na Floresta Encantada e Seus Amigos, os Bichinhos Fofinhos?

Experimenta fazer uma piada dizendo que os gaúchos têm uma opção sexual diferenciada ou que os baianos são preguiçosos. Sempre tem um militante do politicamente correto (normalmente um cara chato praca) dizendo que a gente está sendo intolerante, que isso não se faz, e que “eu vou contar pra sua mãe”.

Nem as rodinhas de bar se salvam.
Se alguém for contar uma piada que ofenda a nova ordem mundial, é capaz de o garçom nem servir mais à mesa. Ou pior, servir com aquele tempero especial.

Margaret Thatcher que me perdoe, mas minhas piadas de padres pedófilos, portugueses com um intelecto inferior (isso significa “burros”, ó pá) e judeus pirangueiros vão continuar firmes e fortes.

E quem achar ruim que vá ler Paulo Coelho.





6 de nov. de 2008

Pebas, não. Não mesmo

Nunca fui fã de poesia.
Pra ser sincero, sempre achei um saco.
Principalmente quando pegava um verso pra lá de confuso e perguntava a um fã do babado que diabos aquilo significava e ouvia de volta:
“Ah, isso depende da interpretação de cada um.”
Como assim?!
Quer dizer que Fulaninho de Tal escreve o que quer e nem precisa fazer sentido?
Isso é que é profissão, pensava eu com meus botões.
Botões não. Zíperes, que eu sou modernoso.

Outra coisa que eu nunca gostei e até tinha medo, antes de chegar na idade de conseguir espantar alguém com olhares ameaçadores: cantadores.
Na boa, ter que ficar ouvindo dois caras fazendo piada com você e no final ainda ter que pagar com medo de ser mais achincalhado?
Non, non, non. É demais pra mim.

Por isso nunca imaginei que algum dia eu aplaudiria de pé, e com vontade, a junção dessas duas...er...formas de arte.

No dia 22 de outubro eu fui para o lançamento do CD A Revolução dos Pebas, da banda Fim de Feira no teatro da Universidade federal de Pernambuco.
Como amigo dos integrantes, sempre fui aos shows e acompanhei a evolução do grupo. Mas, sinceramente, nunca fui fã.
Então, ao chegar no show, me preparei para duas horas de “lamento sertanejo”.

Odeio estar enganado.

A cortina subiu e meu queixo caiu.
Fiquei espantado em de repente me dar conta que o trio pé de serra com a zabumba hardcore de Bruno se transformou em um grupo musical pra lá de sensacional.

Acompanhei as músicas com uma avidez impressionante. Até parecia que eles eram britânicos.

Até os versos de Bruno, que eu já cansei de ouvir e até memorizei, mas não sem antes lutar muito contra, fizeram os pêlos do meu braço lutarem contra a força da gravidade.

Quando André começou a cantar, senti uma coisa que só achava que sentiria quando meu filho chegasse na mesa final do WSOP: orgulho.

Daí pra frente foi só ascensão, com convidados especiais e música nordestina tipo exportação.

O apogeu chegou e com ele veio uma batalha de pandeiros.
A platéia estava alucinada, não tanto quando Tonzinho, que parecia duelar com as cordas dos seus instrumentos e, para delírio dos presentes, sempre sair ganhando.

De repente, graças ao declamador, um cheiro de bolo que eu não sentia há muito tempo invadiu as minhas narinas.
E ele só aumentou quando seu Florismundo levantou-se para saudar seus netos.

Contrariando as regras conhecidas, a queda não veio.
O que veio foi uma chuva de aplausos. E merecidos.

Ao contrário de quando eu cheguei, saí de lá estranho.
Continuava sem gostar de poesias e cantadores ainda tinham lugar cativo na minha câmara de torturas.

Mas não pude deixar de sentir uma sensação conhecida, como se eu novamente tivesse comido um daqueles bolos, depois de torcer um bocado para ele dar errado.




17 de set. de 2008

Cheiro de avó

E cá estou eu.

Pensando um monte de coisas quando deveria estar pensando em um título pro anúncio de carros usados de um cliente.

Entre essas coisas eu lembrei da minha avó.

Vovó Dezinha.

É, ela era tão fofinha quanto o nome.

E sim, ela já morreu.

Eu a amava do fundo do coração. Afinal de contas, ela era daquelas avós que todo mundo amava. Até os netos das outras avós.

Eu tenho uma visão muito particular da Dona Morte.
Inevitável.
Igual a lamber a tampa de alumínio do iogurte.

E acho que foi por isso que eu, por mais incrível que possa parecer, não fiquei triste quando ela morreu.

Chorei, é claro. Mais do que o Cesar Cielo.

Mas chorei de saudade. E não de tristeza. Porque eu sabia que ela era feliz.

Bastava olhar naqueles olhinhos pequenos para ver que ela era muito feliz.
Sabe aquela pessoa que você olha e muda seu humor?
Ela era assim.

E não era aquela felicidade que se sente quando o time ganha do rival, ou quando se acha uma nota de 50 no bolso da calça.

Era felicidade de ter vivido. E bem.

E é por isso que eu não fiquei triste quando ela cansou daqui e partiu.

Apesar de às vezes ainda chorar de saudade.

Quando eu me lembro do abraço e do beijo na cabeça.
Ou da risada aguda e contagiante.
Quem sabe é por causa dos carinhos no meu cabelo quando eu deitava no colo dela?

Mas nada se compara a lembrança do cheiro dela.

Cheiro de avó.

Da minha vovó Dezinha.




1 de set. de 2008

Carona com Chimbinha e Dona Ivone Lara

Cena:
Ônibus lotado, sete e meia da noite, som ambiente de Calypso (vai Chimbinha,vai!).

De repente, o motorista mete o pé no freio. Com aquela vontade que só algumas pessoas têm.
Lá estou eu, tentando me equilibrar quando olho para o lado e vejo Dona Ivone Lara vindo pra cima de mim.
Olho para os lados na esperança de achar uma saída. Mas não tinha nenhuma.
Ou Dona Ivone em cima de mim, ou a cabeça no chão do coletivo.
Respirei fundo e pensei: "Meu playstation para André, minha maleta de poker para Corpinho, minhas dívidas para meu chefe."
Abri as pernas para ter mais equilíbrio e segurei com força para tentar resistir ao impacto.

Pobre de mim.

Dona Ivone veio desgovernada, atropelando tudo pelo meio do caminho. Mais ou menos como aquele ônibus pilotado por Sandra Bullock.

Impacto. Dor. Oxigênio expelido abruptamento dos pulmões.

Abro os olhos e a primeira coisa que eu vejo é um sovaco suado no meu rosto.
Dona Ivone me derrubou e ainda ficou por cima. Além de tudo nem pude exercer meu papel de macho alfa.

Ela levanta. Ou melhor, é levantada.

Eu tento me erguer, mas a visão do sovaco está viva demais na minha cabeça. E nas minhas narinas.

Consigo ficar de pé. Tudo dói. Principalmente as narinas.

A guitarra maldita de Chimbinha continua gemendo. Igual a mim.

O motorista se vira e fala: "Desculpa aí galera!"

O ônibus segue, assim como a guitarra e o cheiro inesquecível do sovaco de Dona Ivone Lara.




20 de ago. de 2008

O Prazer Do Vazio

Folhas em branco causam sempre o mesmo efeito em mim.

Aquele velho e familiar sentimento de infinitas possibilidades. Como se fosse a chance de começar algo do zero, um recomeço.

Em sua frente não tenho passado, não tenho futuro. Tudo que tenho é aquele momento. Aquela chance de criar. Criar personagens, criar histórias, contar mentiras, contar verdades.

Com ela ao meu lado posso trocar uma idéia com Raskolnikov, posso paquerar com, ai ai, Audrey Hepburn, posso fazer um dueto com Johnny Cash.

Na sua imensidão pálida dou um mergulho no parque de diversões que costuma ser minha cabeça.

Posso colocar pra fora os meus sentimentos, angústias.

Posso ser criativo. Posso ser brega.

Você deve estar pensando: "Mas que exagero. Não passa de uma folha em branco!"
Então pergunto: quem nunca teve vontade de ter outra chance?

Na frente da minha amiga vazia sou quem quiser ser.

E não precisa ser uma folha especial, não. Pode ser uma dessas comuns, do Word mesmo.
Afinal de contas, nada se compara com a oportunidade de um restart.

Sou mesmo um privilegiado por toda manhã ter um encontro com uma folha em branco.




17 de ago. de 2008

Eu não resisto

Quando eu tava pensando em colocar esse blog no ar, fiquei em dúvida sobre uma coisa: falo ou não sobre publicidade?
Blogs sobre publicidade existem vários. Um melhor que o outro. Então achei que essa categoria já estava bem representada (o Brainstorm9 do Merigo é um bom exemplo). Mas, navegando pelo BlueBus, achei esse pôster da Mc Donald's feito por um fã e não resisti.



Tudo bem, isso pode não se encaixar como publicidade. Mas me fez pensar em 3 coisas.


1)
A publicidade está transformada. Aquele consumidor que ficava sentado no sofá mergulhando Oreos no leite já era (o Oreo com leite continua firme e forte, claro.) Com a evolução da tecnologia, o consumidor agora tem o poder de escolher se vai ou não ser atingido pela publicidade.

E qual a solução para isso?

Entretenimento.

Criar uma relação emocional com o consumidor é fundamental para o sucesso de qualquer campanha.
Voltando ao Ronald/Coringa, se isso realmente fosse uma campanha da Mc Donald's, seria muito interessante por tudo isso que eu já falei lá em cima.

A espetacular atuação de Heath Ledger somada a sua morte prematura já deixaria a campanha mais interessante.

Agora imagine se a Mc Donald's fizesse um Mc Lanche Feliz com o bonequinho do Coringa? Será que ia fazer sucesso?


2)
A paixão pela marca.

Com certeza o sonho de toda empresa é fazer com que seu consumidor seja apaixonado por ela. E esse pôster pode ter sido fruto da paixão da paixão de um fã de Batman que também adora a rede de fast-food.

3)
Esse pôster pode, é claro, ser uma piada de mal gosto com a Mc Donald's. Afinal de contas, juntar um vilão carniceiro e psicopata com o "simpático" personagem infantil pode não pegar muito bem.




16 de ago. de 2008

Sexta-feira

Eu acho engraçada a revolução que a sexta-feira causa na vida das pessoas.

Sério mesmo.

As sextas-feiras são repletas de perguntas como: “E aí, qual é a boa de hoje?”
E se você ousar responder que não vai fazer nada corre o risco de ser olhado de uma maneira estranha, como se de repente seu rosto se transformasse no de Dercy Gonçalves. Com hanseníase.

Sem falar que ninguém trabalha na sexta-feira.
Nem os chefes.
Aliás, muito menos os chefes.
A única coisa que acontece nas sextas-feiras são as conversas:
“Hoje eu vou nos Jardins, pegar arnega (playboyzês para “as negas”).
Ou então:
“Amiiiiiiiga. Tudo certo pra hoje, né? Vai ter Felipão & Forró Moral na Fashion. A gente se encontra lá. Beijo, miga”.

Argh.

Eu fico nervoso nas sextas-feiras.
Essa pressão social pra fazer alguma coisa me tira do sério.
Numa sexta-feira dessas (justo quanto eu tinha prometido que ia arrancar o fígado pelo sovaco do próximo que me perguntasse o que eu ia fazer) um dos meus chefes entrou na sala e começou a discursar sobre como ele adora a sexta-feira, como ele passa a semana toda esperando por ela e todo o discurso “I coração Sexta-Feira".
Ele passou, no mínimo, meia hora puxando o saco desse maldito dia.

Eu estava suando.

Minha cadeira estava parecendo uma daquelas bóias de parque aquático. Aquelas que quando você se mexe faz um barulho agradável, sabe?
De repente ele virou pra mim e fez: “E aí, Paulo? Hoje você vai...”

O sangue subiu.

A veia na minha testa parecia o Grand Canyon e eu não me controlei. Levantei da cadeira (e o barulho da bóia me irritou ainda mais), olhei nos olhos dele já esperando pra jogar a bandeira de R$1,00 do Náutico que tem em cima do monitor assim que ele completasse a pergunta.

“... sair na hora, né? Pra compensar que você ficou até tarde ontem.”

Ufa.

Odeio sextas-feiras.