1 de set. de 2008

Carona com Chimbinha e Dona Ivone Lara

Cena:
Ônibus lotado, sete e meia da noite, som ambiente de Calypso (vai Chimbinha,vai!).

De repente, o motorista mete o pé no freio. Com aquela vontade que só algumas pessoas têm.
Lá estou eu, tentando me equilibrar quando olho para o lado e vejo Dona Ivone Lara vindo pra cima de mim.
Olho para os lados na esperança de achar uma saída. Mas não tinha nenhuma.
Ou Dona Ivone em cima de mim, ou a cabeça no chão do coletivo.
Respirei fundo e pensei: "Meu playstation para André, minha maleta de poker para Corpinho, minhas dívidas para meu chefe."
Abri as pernas para ter mais equilíbrio e segurei com força para tentar resistir ao impacto.

Pobre de mim.

Dona Ivone veio desgovernada, atropelando tudo pelo meio do caminho. Mais ou menos como aquele ônibus pilotado por Sandra Bullock.

Impacto. Dor. Oxigênio expelido abruptamento dos pulmões.

Abro os olhos e a primeira coisa que eu vejo é um sovaco suado no meu rosto.
Dona Ivone me derrubou e ainda ficou por cima. Além de tudo nem pude exercer meu papel de macho alfa.

Ela levanta. Ou melhor, é levantada.

Eu tento me erguer, mas a visão do sovaco está viva demais na minha cabeça. E nas minhas narinas.

Consigo ficar de pé. Tudo dói. Principalmente as narinas.

A guitarra maldita de Chimbinha continua gemendo. Igual a mim.

O motorista se vira e fala: "Desculpa aí galera!"

O ônibus segue, assim como a guitarra e o cheiro inesquecível do sovaco de Dona Ivone Lara.